segunda-feira, 12 de maio de 2014

Após reunião, rodoviários do Rio decidem por paralisação de 48 horas

Após reunião, rodoviários do Rio decidem por paralisação de 48 horas

Paralisação já começa à 0h desta terça-feira (13), segundo grevistas.
Após decisão, grupo seguiu em passeata e fechou vias do 

Rodoviários em greve decidem por uma paralisão de 48 horas da categoria, no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (12 (Foto: José Lucena/Futura Press)



Os rodoviários que fizeram uma paralisação de advertência na quinta-feira passada (8) no Rio decidiram parar novamente a partir da 0h de terça-feira (13), desta vez por 48 horas (entenda o impasse que levou à greve).

A decisão foi tomada após uma audiência que terminou sem acordo no Tribunal Regional do Trabalho (TRT-RJ) nesta segunda (12), com representantes dos grevistas, do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus do Rio (Sintraturb-Rio) e da Rio Ônibus, sindicato que representa as empresas. Após a decisão, o grupo saiu em passeata pelo Centro da cidade, causando interdições de vias. Às 17h20, a Avenida Rio Branco foi interditada. Por volta das 18h30, a manifestação começou a dispersar.
Segundo o TRT, o processo segue o trâmite normal e o sindicato tem até cinco dias para preparar uma defesa. Em seguida, o patronal tem o mesmo prazo para apresentar uma espécie de tréplica. Somente depois desses prazos o Ministério Público do Trabalho apresenta um parecer para a marcação do julgamento.
A Rio Ônibus considera o movimento abusivo e ilegal por estar sendo organizado por um grupo de rodoviários que não tem legitimidade nem representatividade legal da categoria. “Mais uma vez o ato anunciado não respeita os princípios e requisitos da lei de greve, que prevê o aviso da paralisação com 72 horas de antecedência e a sua votação por uma assembleia oficial do sindicato que representa os profissionais”, diz a nota.
Ainda segundo a Rio Ônibus, os quatro consórcios que abastecem a cidade, Intersul, Internorte, Transcarioca e Santa Cruz, vão manter suas frotas prontas para operação, “mas a circulação dependerá da chegada dos motoristas ao trabalho e das condições de segurança, já que na primeira paralisação centenas de veículos foram atacados”.
Plano de contingência
A Prefeitura do Rio montou um plano de contingência para minimizar o impacto da paralisação de rodoviários a partir da 0h desta terça-feira. As medidas priorizam metrô, trens e barcas e reforçam linhas de ônibus que fazem ligações com esses modais. A Polícia Militar vai garantir a segurança na saída das garagens dos quatro consórcios.
O Metrô Rio informou que irá funcionar com capacidade máxima a partir das 5h30 desta terça-feira (13). Eles também orientam os usuários do metrô para que comprem o bilhete antecipadamente para evitarem fila durante a paralisação.
A CCR Barcas informou que está preparando viagens extras para o caso de aumento da demanda, devido à greve dos rodoviários. Na paralisação da última quinta-feira (8), a linha que atende Cocotá, na Ilha do Governador, na Zona Norte, registrou recorde no transporte de passageiros. Ao todo, 9 mil pessoas - um aumento de 204% na média de usuários no mês de maio de 2014.
O grupo tinha dado uma trégua ao movimento desde uma reunião com Ministério Público do Trabalho (MPT) na sexta-feira (9). O encontro contou com a intermediação da procuradora Débora Félix. Um grupo de rodoviários não aceita o acordo votado e aprovado em assembleia em março, que aprovava a proposta de aumento oferecida pelas empresas. O vice-presidente do Sintraturb-Rio, Sebastião José da Silva, afirma que a assembleia foi realizada dentro da legalidade. Dois procuradores do MPT abriram inquérito para investigar denúncias de supostas irregularidades.
De acordo com Hélio Alfredo, líder dos rodoviários dissidentes, cinco pessoas formaram uma comissão e participaram da reunião do TRT como ouvintes, sem poder participar da conversa. Sobre o sindicato não reconhecer a paralisação decretada na tarde desta segunda, ele se irritou:

"Não reconhece? Se não fossem os rodoviários, o sindicato não ia existir. É só as autoridades mandarem que os patrões negociam com a gente", disse Hélio.
Manifestação
Além da paralisação de quinta-feira, os rodoviários fizeram uma manifestação, que interditou por uma hora a Avenida Rio Branco, por volta das 16h30, de sexta-feira. O grupo, de cerca de 600 trocadores e motoristas, caminhou em passeata até o Ministério Público do Trabalho, onde se reuniu com o procurador-geral Carlos Augusto Solar.
O procurador disse, na quinta-feira, que o MPT recebeu uma denúncia em um papel sem timbre e sem assinatura sobre irregularidades ocorridas na assembleia que decidiu aceitar o reajuste para a categoria. "A comunicação que eles fizeram não fornece nenhum elemento para contato", explicou.

Solar disse ainda que acredita que o diálogo poderia ter evitado os acontecimentos de violência durante os protestos. "O MPT quer entender o que está por trás e obter documentos para saber como foi a negociação, para intermediar o conflito."

Dia conturbado
A paralisação de 24 horas na quinta-feira acabou com 531 veículos depredados na cidade. E para que a população não ficasse sem transporte, as empresas fizeram um mutirão durante a noite e a madrugada e conseguiram consertar 475 ônibus, cerca de 90% da frota avariada.
Ao longo da quinta-feira, passageiros tiveram dificuldades de encontrar coletivos. Os que circularam apesar das ameaças — inclusive de homens armados — ficaram superlotados. A frota que circulava pela cidade era de 24% do total por volta das 18h.

Uma trocadora da Viação Acari foi atingida por uma pedra e encaminhada para a UPA de Marechal Hermes, no Subúrbio do Rio. Por causa dos piquetes, muitos ônibus nem saíram das garagens e os passageiros esperaram por horas nas ruas para ir ao trabalho.


De acordo com dados divulgados pela Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) na quinta-feira, o prejuízo total somou R$ 17 milhões: R$ 3 milhões em depredações — maior número desde 2004 —, e R$ 14 milhões em ônibus incendiados.
Entenda o impasse
Motoristas e cobradores questionam o acordo firmado entre o Sindicato dos Rodoviários e as empresas de ônibus em março. Para entender o impasse, o G1 e o RJTV ouviram grevistas, os empregadores e o sindicato dos trabalhadores, que é contra a greve.
A categoria ganhou um aumento de 10% no salário retroativo a abril e o salário-base do motorista passou para cerca de R$ 1.950. Os rodoviários também tiveram um reajuste de 40% no valor da cesta básica, que subiu para R$ 140.
Os grevistas, no entanto, querem um aumento de 40% no salário — passariam a receber quase R$ 2,5 mil, além de cesta básica de R$ 400. Outra reivindicação é o fim da dupla função, onde motoristas também trabalham como trocadores. Segundo eles, o sindicato não consultou a categoria ao aceitar o acordo com as empresas.

"A nossa paralisação é devido ao descaso do sindicato [dos trabalhadores]. Ele [sindicato] fez um acordo sem consultar a classe, acordou 10% e não perguntou se os rodoviários concordavam com isso. Pessoal quis conversar com o sindicato, quis sentar e ele não quis", disse Hélio Alfredo, representante dos grevistas.

O Sindicato dos Rodoviários diz que o acordo foi aprovado em assembleia. "O sindicato fez uma assembleia do dia 11 de março, em dois turnos no Guadalupe Country Clube, na Avenida Brasil, e um grupo de trabalhadores colocou uma proposta de R$ 2,5 mil e R$ 400 de ticket, que foi reprovada pela própria assembleia, e aprovaram uma de R$ 2,2 mil, que depois foi negociado. Chegamos aos 10% de aumento e 40% da cesta básica", explicou o presidente do sindicato, José Carlos Sacramento.

O presidente do Rio Ônibus, sindicato das empresas de ônibus, Lélis Teixeira, disse que o acordo foi o maior aumento da categoria no país e descarta nova negociação. "É um acordo feito, definido e pago. Não há margem [para discussão]", disse o representante, que pediu na Justiça que a paralisação seja considerada ilegal.

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