sexta-feira, 27 de junho de 2014

Diana’s disastrous legacy

Diana’s disastrous legacy


  •  
Catherine, Duchess of Cambridge, at a Buckingham Palace garden party this month; Princess Diana in 1997, the year she died; Letizia of Spain attends her first solo engagement as Queen by visiting Madrid’s Prado Museum (Foto: Getty)
Observei a foto da nova rainha espanhola Letizia, sentada em imaculado look branco ao lado das suas angelicais filhas. E quis chorar. Minha emoção não vinha da proclamação do Rei Felipe VI, nem estava eu interessada em quem havia criado o modelo que sua mulher usava. Aliás, isso era o de menos.
Mas senti a mesma tristeza que sinto por toda esta geração de princesas europeias, que são inteligentes, escolhidas por amor e não por ascendência nobre, e ainda assim destinadas a serem vistas como meros cabides. Existe mais discussão em torno das roupas, corpos, supostas rinoplastias e outras futilidades do que sobre as causas nas quais elas têm trabalhado pela última década.
Eu culpo Diana, apesar de ser resultado de seu legado e não dela em si. A Princesa de Gales fez tanto trabalho bom – das campanhas para o tratamento da AIDS à remoção das minas terrestres, passando pela ajuda que dava às crianças com leucemia –, e ainda assim era definida mais pelo seu carisma do que pelos seus feitos. E especialmente pela maneira como aparentava e se vestia.
“Shy Di”, the Princess of Wales during a visit to Australia in 1985. Right: “confident divorcée” Diana attends the Vanity Fair party at London’s Serpentine Gallery in 1994. The famous black “revenge dress” was a spectacular coup by the princess, worn on t (Foto: Getty)
Aristocrática, pobremente educada e carente de amor e apoio, Diana era esperta o suficiente para usar suas roupas como maneira de enviar mensagens. A transformação da “Envergonhada Di” em jovem mãe, esposa traída, divorciada confiante e, finalmente, superstar, foi propositalmente desenvolvida em sua aparência.
Mas o desastroso legado da amorosa e dedicada princesa, que se tornaria uma avó de 53 anos no próximo dia 01.07, foi para atrair a próxima geração de princesas reais em direção ao espelho. Elas se focaram na aparência, algo brilhantemente manipulado por Diana, seguindo o canto da sereia das telas de televisão e das fotos de jornais. O objetivo se tornou a impossível tarefa de ser a nova Lady Di.
Princess Grace and Prince Rainier III of Monaco during their wedding ceremony in the principality’s Saint Nicholas Cathedral, 1956 (Foto: Getty)
Assisti ao filme sobre Grace de Mônaco, criticado pela imprensa, e percebi que o conceito de uma princesa como estrela de cinema começou com o casamento de Grace Kelly com Rainier de Mônaco em 1956. Naquela época, a apresentação da majestade era uma visão hollywoodiana em seda, diamantes e coques que definiram o padrão da sua época.
Hoje, a imagem é vista através da lente de um smartphone. Letizia, ao visitar o Museu do Prado em Madrid essa semana, em seu primeiro papel oficial como rainha, parecia superesbelta. Mas vê-la na vida real, assim como com a rainha Rania da Jordânia, é ver pequenos passarinho com uma silhueta reduzida feita para a televisão. 
Left to right: Rania, who became Queen of Jordan in 1999, wearing a Bruce Oldfield gown for her wedding to Abdullah II at the Royal Palace in Amman in 1993; Rania’s polished look of today (Foto: Getty)
Compare as imagens atuais com as do álbum dos seus casamentos reais e tudo parece ter mudado: forma do corpo, bochechas, nariz. Este é o caso de jovens mulheres, agora com 40 anos recém-completos, remodelando elas mesmas para o implacável olhar das câmeras.
Queen Máxima of the Netherlands and Queen Mathilde of Belgium sit together during a ceremony earlier this month (Foto: Getty)
Todas os atuais jovens membros da realeza – Maria da Dinamarca, Mette-Marit da Noruega ou a recém-coroada Rainha Máxima da Holanda – são esbeltas e modeladas em diferentes graus. Figuras reais robustas são encontradas somente na geração da abdicação, como roliça Rainha Beatrix da Holanda, que tem uma silhueta similar à da antiga Rainha Mãe do Reino Unido.
Kate Middleton é parte da nova raça. Ela foi de estudante esportista à princesa magérrima e agora, depois de mostrar sua barriga de grávida no nascimento do príncipe George um ano atrás completado no próximo mês, está superesguia em fotos e magra-alfinete na vida real.
Left to right: the Duchess of Cambridge in a formal Alexander McQueen outfit earlier this month; and wearing jeans in a more relaxed style to watch Prince William play in a charity polo match (Foto: Getty)
A Duquesa de Cambridge está usando sua inteligência – como o príncipe William, ela se formou na Universidade de St. Andrews, na Escócia – para criar uma persona através da linguagem das roupas. Seu estilo high-low, em Alexander McQueen alta-costura um dia e Zara no outro, envia uma mensagem: “Eu posso ser da realeza – mas eu continuo a simples Kate”
Parte da culpa do foco nas roupas, mais que nas ações, cai sobre nós – editores de moda que são rápidos para criticar, instigados por uma blogosfera de estridentes críticos de smartphone.
Left to right: Charlene Wittstock in 2006 as a South African swimmer prior to her 2011 marriage to Prince Albert II of Monaco; a pregnant Princess Charlene of Monaco in Monte Carlo earlier this month (Foto: Getty)

Apesar de sabermos que todas as princesas, da suprema nadadora Charlene de Mônaco,  passando pela nascida na Tasmânia Maria da Dinamarca, até a aristocrata nova Rainha da Bélgica Mathilde, já encontraram causas para suportar, é muito mais fácil comentar os seus guarda-roupas que suas ações.
Letizia, por exemplo, é envolvida em várias ações de caridade: pesquisa de doenças raras ou apoio aos programas nutricionais da Organização Mundial da Saúde. Charlene de Mônaco apóia causas infantis e instituições ligadas à segurança d’água. Maria da Dinamarca é patrona da Fundação Dinamarquesa do Câncer e de estudos de doenças raras.
Talvez nos seus próprios países esses projetos sejam bem conhecidos. Mas globalmente, os únicos comentários que ficam é a observação de Karl Lagerfeld que Kate poderia ser a irmã mais nova de Maria.
Kate Middleton, holding her son and heir to the throne, Prince George, and Mary of Denmark, with daughter Princess Josephine, both have a similar approach to their royal appearance (Foto: Getty)

O que mais está nas notícias? Tiveram infinitas perguntas sobre quando Charlene e Albert de Mônaco começariam uma família. A conversa foi agora transformada em se Charlene está esperando gêmeos.
Ah, a maternidade! A parte anacrônica da monarquia moderna é que o destino e o propósito da princesa que se casa e passa a fazer parte de uma família real – como tem sido desde a história antiga – é ainda ter um filho ou dois. Ela é requerida a produzir “um herdeiro e um extra” que garantam a sucessão real.
Só que isso não é suficiente em um mundo de selfies e Instagram. Uma vez que ela tenha produzido a criança, uma princesa sente que ela precisa mover uma varinha mágica para voltar à sua silhueta pré-gravidez – igual as estrelas de Hollywood. Manter-se magra para a câmera se tornou uma obsessão.
Left to right: a young Crown Princess Victoria of Sweden in 1997 and as a mother with daughter Princess Estelle this month (Foto: Getty)

A única figura real a admitir um distúrbio alimentar (além de Diana e sua bulimia) é a Princesa Victoria da Suécia, que sofreu de anorexia em 1997, mas agora parece uma jovem e saudável mãe.
As fofocas dizem que Letizia é anoréxica. E sua atual aparência leve-como-um-pássaro é bem diferente da poderosa apresentadora Letizia Ortiz Rocasolano antes do seu casamento em 2004.
Left: Letizia as Princess of Spain in 2004, the year she married King Felipe Vl; and right, a few days before she became Queen of Spain (Foto: Getty)

Colombe Pringle, que foi editora-chefe da revista francesa sobre realeza e socidade Point de Vue por dez anos, acompanhou as novas princesas e viu mudanças drásticas. Eu perguntei a ela por que as jovens da realeza se tornaram obsessivas com suas aparências. “Elas querem ser estrelas de cinema – e elas perceberam que fotos podem te fazer parecer gorda”, disse Colombe, que é atualmente jornalista em um canal de televisão francês. Na visão de Pringle, as jovens da realeza se sentem parte de uma ampla mudança social.
“É a primeira geração para todo mundo”, ela diz. “É a primeira vez que as revistas só falam de ‘it-bags’. Que Cannes é só sobre o tapete vermelho. Essas meninas são como cabides com diamantes nas orelhas.”
Pringle, que fez a revista mais inteligente e mais política que uma tradicional publicação sobre a realeza, viu Carla Bruni se transformar de primeira-dama da França em anúncio ambulante para a Bulgari joias. Colombe diz até que os cabelos de Kate Middleton parecem mais um anúncio da Head & Shoulders que um penteado real.
Então, qual é o futuro dessas princesas de classe-média sem o sangue real pulsando em suas veias?
Leonor, Princess of Asturias, direct heir to the throne, in pink, and her sister Princess Sofia, in blue, sit with their mother to watch as their father is inaugurated as King of Spain (Foto: Getty)

A ótima e histórica mudança é que o primeiro filho – menina ou menino – está agora na linha para o trono, uma vez que as regras da primogenitura na sucessão real foram revistas.
E por uma feliz coincidência, além do príncipe George, quase todas as princesas produziram meninas como primogênitos. Então infanta Leonor da Espanha, que só tem oito anos de idade, será rainha um dia por direito, ao lado da princesa Estelle da Suécia, Ingrid da Noruega, filha da princesa Mette-Marit, ou Catharina-Amalia, filha da Rainha Máxima da Holanda.
Isso significa que um novo grupo de meninas vão crescer para serem princesas seguras e, por fim, rainhas conhecidas pelo que elas fazem – e não pelas suas aparências?
Agora isso seria um verdadeiro conto de fadas real.
Left to right: Princess Alexia, Princess Ariane and their elder sister and direct heir to the throne Princess Catharina-Amalia of The Netherlands stand under the watchful gaze of their parents King Willem-Alexander, Queen Máxima of The Netherlands, and th (Foto: Getty)

Nenhum comentário:

Postar um comentário