sexta-feira, 27 de junho de 2014

E se o Brasil perder a Copa?

E se o Brasil perder a Copa?


Copa do Mundo do Brasil está longe de ser, até agora, o caos que se desenhava e todos temiam. Os protestos ficaram sob controle, as torcidas fazem a festa e os jogos enchem os olhos. Nesse cenário, o governo federal e o PT já elaboram uma estratégia para transformar o evento em ativo eleitoral de Dilma Rousseff. O primeiro passo foi a reação aos insultos no Itaquerão. Os petistas avaliam que a radicalização do discurso do “nós contra eles” – que atribuiu os insultos à “elite” – foi bem-sucedida. Dilma ainda mantém uma distância prudente da Copa, mas já há quem defenda dentro do partido uma aproximação dela com a Seleção Brasileira e a Copa do Mundo, a exemplo do que tem feito a chanceler alemã Angela Merkel. Até a última quinta-feira, Dilma era a única pré-candidata com a coragem de aparecer num estádio de futebol. Dilma já está disposta a assistir à final do torneio, no dia 13 de julho, no Maracanã, hipótese descartada antes do início da competição.

“RED BLOCS” Torcedores chilenos depredam a sala de imprensa do Maracanã. Depois do ato  de vandalismo,  a Fifa prometeu melhorar a segurança na Copa do Mundo (Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP )
Na avaliação do PT, nem mesmo a tentativa de invasão do Maracanã por um grupo de torcedores chilenos, na quarta-feira (18), antes do jogo Espanha x Chile, foi suficiente para macular a imagem de tranquilidade da Copa. Os “Red Blocs” chilenos entraram no Maracanã pela sala de imprensa, território controlado pela Fifa. A Fifa assumiu a responsabilidade e prometeu rever a segurança. Oitenta e oito torcedores acabaram na cadeia.
Uma outra ala do PT – os políticos da banda paulista que sonham com Lula candidato em outubro – quer colocá-lo na vitrine e transformá-lo, em caso de vitória do Brasil, numa espécie de “patrono da Copa”. Dizem que foi ele quem conquistou, ainda em 2007, o direito de o Brasil sediar o torneio. Desde então, Lula sempre foi para o confronto com quem quer que fosse para defender a Copa no país. Chegou a dizer que ter metrô até a porta dos estádios era “babaquice”. Para esses petistas de São Paulo, Dilma aderiu apenas na última hora, no pronunciamento que fez em cadeia nacional de televisão dois dias antes do jogo de abertura. Com uma eventual vitória do Brasil, eles sustentam que Lula sai ainda mais pré-candidato que Dilma.
>> Afinal, Dilma vai visitar a Seleção?

Há, no entanto, obstáculos a Dilma e Lula até a possível apoteose. São as oitavas de final. Se a Seleção for desclassificada prematuramente no torneio, é provável que o mau humor volte ao país. O Brasil só perdeu nas oitavas em 1990, quando um dos piores times de nossa história naufragou diante da Argentina de Maradona. Uma derrota nas quartas poderia fornecer ao governo um certo alívio, pois o Brasil já foi eliminado diversas vezes nessa etapa,  em 2006 e 2010. No Palácio do Planalto, não há plano B caso isso aconteça. A presidente acredita na vitória da Seleção e nem quer pensar na hipótese de uma derrota prematura.
 
DE VOLTA AO JOGO Lula com Joseph Blatter em 2007. Para petistas, ele deveria sair mais forte com a vitória do Brasil (Foto: Stuart Franklin/Bongarts/Getty Images)
Ainda sob o eco das ofensas no Itaquerão, Dilma mantém uma distância prudente em relação à Copa. O governo teme que, se ela, de uma hora para outra, entrar na defesa do torneio, em caso de sucesso dentro e fora de campo, o torcedor possa pensar em “oportunismo político”. Apesar da tentativa marqueteira de transformar tudo em “luta de classes”, o PT interpreta as ofensas no Itaquerão como um sinal de alerta. “Essa pancadaria diária (contra o governo e o PT) é o que resulta no palavrão para Dilma no Itaquerão (estádio da abertura). No Itaquerão não tinha só elite branca, não. Fui (ao estádio) e voltei de metrô, não tinha só elite, não, tinha muito moleque gritando palavrão no metrô”, afirmou o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência. Segundo uma pesquisa CNI/Ibope divulgada na quinta-feira (19), a aprovação à gestão Dilma caiu 5 pontos percentuais e está em 31% (quem responde que o governo é “bom” ou “ótimo”). 
Antes do decepcionante empate sem gols entre Brasil e México, havia entre os integrantes da comissão técnica a expectativa de uma visita de Dilma aos jogadores em algum momento da primeira fase da Copa. O técnico Luiz Felipe Scolari esperava ver Dilma na concentração, na Granja Comary, em Teresópolis, Rio de Janeiro, antes mesmo da estreia. Dilma preferiu enviar apenas uma mensagem ao grupo. “Faço questão de mandar meus votos de fé e confiança, nesta hora em que vocês representam a grande tradição e a fabulosa história do nosso futebol”, escreveu Dilma em carta enviada antes da estreia contra a Croácia. É bom manter boas relações com Felipão. Em 2002, ele esperava uma visita do presidente Fernando Henrique Cardoso ao elenco da Seleção, antes do embarque para o exterior. FHC preferiu ficar no Planalto. Por causa disso, após o Brasil ter conquistado o Penta no Japão, Felipão e o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, chegaram a cogitar não levar os campeões a Brasília. Um eventual rancor de Felipão poderia atrapalhar os planos de Dilma e Lula.

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