quinta-feira, 16 de junho de 2016

Professores gays carbonizados em carro levam cidade do sertão baiano às ruas

Professores gays carbonizados em carro levam cidade do sertão baiano às ruas


homofobiaImage copyrightUOSTON PEREIRA/NOTÍCIAS DE SANTALUZ
Image captionPasseata que pediu justiça em caso de professores homossexuais mortos mobilizou população de Santaluz, no sertão da Bahia
No mesmo final de semana em que um ataque a uma casa noturna gay nos EUA chocou o mundo, uma pequena cidade do sertão da Bahia se mobilizou, de forma inédita, em repúdio ao assassinato de dois professores homossexuais.
Edivaldo Silva de Oliveira e Jeovan Bandeira deixaram a escola estadual em que trabalhavam em Santaluz, a cerca de 260 km de Salvador, por volta das 22h da última sexta-feira, dia 10.
Menos de uma hora depois, dois corpos foram localizados no porta-malas no carro de Edivaldo, às margens da rodovia BA-120. O veículo e os corpos estavam carbonizados.
Edivaldo, que era conhecido como Nino, foi identificado pela arcada dentária. Sob chuva, o corpo do professor foi enterrado nesta terça-feira, após um cortejo de duas horas que reuniu centenas de moradores.
O outro corpo ainda passará por exames de DNA para identificação, mas familiares acreditam ser de Jeovan, já que ele está desaparecido desde sexta-feira.
O delegado João Farias, que apura o caso, disse à BBC Brasil que a homofobia é uma das possíveis motivações do crime. A casa de Edivaldo foi encontrada revirada após o crime, mas objetos de valor, como computador, não foram levados.
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Image captionEscola em que professores lecionavam preparou homenageou vítimas; polícia trabalha com hipótese de homofobia
"Eles eram muito amigos e muito queridos na cidade. Também não teriam inimigos. Já ouvimos várias pessoas e por enquanto não descartamos nenhuma hipótese", disse o delegado.
Para o Grupo Gay da Bahia, que faz levantamento nacional de assassinatos de homossexuais, trata-se de mais um caso motivado por homofobia.
"A cidade inteira acredita nessa motivação", disse à BBC Brasil Marcelo Cerqueira, presidente do GGB.
De janeiro a junho deste ano, segundo a ONG, foram 16 casos de assassinatos de pessoas LGBT na Bahia e 123 no Brasil.
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Image captionSegundo o Grupo Gay da Bahia, de janeiro a junho deste ano houve 16 casos de assassinatos de pessoas LGBT na Bahia e 123 no Brasil, em ações possivelmente motivadas por homofobia
No ano passado, o GGB registrou 319 mortes por homofobia - ou um crime de ódio a cada 27 horas. Desse total, 33 (10,3%) foram na Bahia, que ficou atras apenas de São Paulo, com 55 (17%).
Em termos relativos, segundo o GGB, Mato Grosso do Sul registrou o maior índice de casos, com 6,49 homicídios por 1 milhão de pessoas, seguido pelo Amazonas, com 6,45.

Passeata

Na segunda-feira, centenas de moradores da cidade baiana de 32 mil habitantes saíram as ruas em protesto por justiça no caso dos professores. Com faixas contra a violência, o grupo promoveu paradas em frente ao fórum, à delegacia e à Camara Municipal.
Segundo o jornalista Uoston Pereira, do site local Notícias de Santaluz, foi uma das maiores manifestações que a cidade já viu. "A cidade tinha um grande carinho por eles."
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Image captionCorpo de Edivaldo Silva de Oliveira (à dir. na foto) foi identificado; Jeovan Bandeira foi visto pela última vez com Oliveira
Em todo o ano de 2015, Santaluz registrou seis homicídios, segundo a Secretaria de Segurança da Bahia. "São casos esporádicos, mas quase sempre relacionados ao tráfico de drogas", disse Uoston Pereira.
"Longe dos parques temáticos, do turismo cosmopolita e sem gozar do mesmo prestígio internacional de Orlando, Santaluz encurtou a distância geográfica da metrópole americana", escreveu o jornalista baiano André Uzêda, do portal Aratu Online, em artigo de opinião sobre o episódio.

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