Professores gays carbonizados em carro levam cidade do sertão baiano às ruas
No mesmo final de semana em que um ataque a uma casa noturna gay nos EUA chocou o mundo, uma pequena cidade do sertão da Bahia se mobilizou, de forma inédita, em repúdio ao assassinato de dois professores homossexuais.
Edivaldo Silva de Oliveira e Jeovan Bandeira deixaram a escola estadual em que trabalhavam em Santaluz, a cerca de 260 km de Salvador, por volta das 22h da última sexta-feira, dia 10.
Menos de uma hora depois, dois corpos foram localizados no porta-malas no carro de Edivaldo, às margens da rodovia BA-120. O veículo e os corpos estavam carbonizados.
Edivaldo, que era conhecido como Nino, foi identificado pela arcada dentária. Sob chuva, o corpo do professor foi enterrado nesta terça-feira, após um cortejo de duas horas que reuniu centenas de moradores.
O outro corpo ainda passará por exames de DNA para identificação, mas familiares acreditam ser de Jeovan, já que ele está desaparecido desde sexta-feira.
O delegado João Farias, que apura o caso, disse à BBC Brasil que a homofobia é uma das possíveis motivações do crime. A casa de Edivaldo foi encontrada revirada após o crime, mas objetos de valor, como computador, não foram levados.
"Eles eram muito amigos e muito queridos na cidade. Também não teriam inimigos. Já ouvimos várias pessoas e por enquanto não descartamos nenhuma hipótese", disse o delegado.
Para o Grupo Gay da Bahia, que faz levantamento nacional de assassinatos de homossexuais, trata-se de mais um caso motivado por homofobia.
"A cidade inteira acredita nessa motivação", disse à BBC Brasil Marcelo Cerqueira, presidente do GGB.
De janeiro a junho deste ano, segundo a ONG, foram 16 casos de assassinatos de pessoas LGBT na Bahia e 123 no Brasil.
No ano passado, o GGB registrou 319 mortes por homofobia - ou um crime de ódio a cada 27 horas. Desse total, 33 (10,3%) foram na Bahia, que ficou atras apenas de São Paulo, com 55 (17%).
Em termos relativos, segundo o GGB, Mato Grosso do Sul registrou o maior índice de casos, com 6,49 homicídios por 1 milhão de pessoas, seguido pelo Amazonas, com 6,45.
Passeata
Na segunda-feira, centenas de moradores da cidade baiana de 32 mil habitantes saíram as ruas em protesto por justiça no caso dos professores. Com faixas contra a violência, o grupo promoveu paradas em frente ao fórum, à delegacia e à Camara Municipal.
Segundo o jornalista Uoston Pereira, do site local Notícias de Santaluz, foi uma das maiores manifestações que a cidade já viu. "A cidade tinha um grande carinho por eles."
Em todo o ano de 2015, Santaluz registrou seis homicídios, segundo a Secretaria de Segurança da Bahia. "São casos esporádicos, mas quase sempre relacionados ao tráfico de drogas", disse Uoston Pereira.
"Longe dos parques temáticos, do turismo cosmopolita e sem gozar do mesmo prestígio internacional de Orlando, Santaluz encurtou a distância geográfica da metrópole americana", escreveu o jornalista baiano André Uzêda, do portal Aratu Online, em artigo de opinião sobre o episódio.
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