O zíper e outras invenções popularizadas graças à Primeira Guerra Mundial
O sofrimento e os desafios gerados pela Primeira Guerra Mundial levaram a população a criar soluções que, mais tarde, viriam a beneficiar a humanidade. Cem anos após o início da guerra, conheça algumas das invenções que resultaram de um conflito em que, estima-se, 16 milhões perderam suas vidas e outros 21 milhões ficaram feridos.
Absorventes Íntimos
Antes de estourar a Primeira Guerra, uma pequena empresa americana registrou sob sua marca um material conhecido como Cellucotton. A substância, composta pela polpa da celulose da madeira (usada na fabricação de papel), era cinco vezes mais absorvente do que o algodão e custava a metade do preço.
Em 1917, quando os Estados Unidos entraram na guerra, a empresa - Kimberly-Clark - passou a empregar o material na fabricação, em grande escala, de enchimento para curativos cirúrgicos.
Enfermeiras da Cruz Vermelha trabalhando nos campos de batalha logo se deram conta da utilidade do produto na higiene íntima. Esse uso adicional do produto acabaria, anos mais tarde, alterando o destino da pequena firma americana.
Em 1920, menos de dois anos após o final da guerra, chegou às lojas americanas o primeiro absorvente íntimo da história, batizado de Kotex (junção das palavras inglesascotton, algodão, e texture, textura).
Lenços de Papel
Vender absorventes íntimos não era fácil, porque as mulheres ficavam constrangidas em comprar o produto de vendedores homens. As vendas aumentavam aos poucos, mas a empresa continuava a buscar outras utilidades para o material.
No início da década de 1920, um pesquisador teve a ideia de passar a polpa de celulose a ferro, para produzier um tecido macio e absorvente. Depois de alguns experimentos, o lenço de papel Kleenex foi lançado, em 1924.
Banhos de Luz Artificial
Segundo estimativas, no inverno de 1918, metade das crianças na cidade de Berlim, Alemanha, sofriam de raquitismo. Naquele tempo, não se conheciam as causas da enfermidade - os ossos de pessoas com raquitismo perdem a dureza e tornam-se deformados e quebradiços - mas acreditava-se que estava associada à pobreza.
Um médico de Berlim, Kurt Huldschinsky, notou que os pacientes estavam muito pálidos. E decidiu fazer um experimento com quatro deles: colocou-os sob lâmpadas que emitiam luz ultravioleta.
À medida que os banhos de luz se repetiam, o médico notava que os ossos dos pacientes se fortaleciam. Em maio de 1919, quando o verão chegou, os pacientes passaram a tomar banhos de sol no terraço do hospital.
Quando os resultados do experimento foram publicados, foram recebidos com entusiasmo. Na cidade de Dresden, as autoridades retiraram as luzes das ruas para tratar as crianças.
Tempos depois, pesquisadores descobriram que a vitamina D é necessária para a fixação do cálcio nos ossos. E que a luz ultravioleta induz o organismo a fabricar a vitamina D.
Relógio de Pulso
O relógio de pulso não foi inventado especificamente para a Primeira Guerra Mundial, mas seu uso, especialmente por homens, se alastrou dramaticamente durante o conflito. E depois da guerra, o relógio de pulso havia se tornado o meio mais comum para se saber a hora.
No final do século 19 e início do século 20, homens que tinham posses usavam relógios de bolso. As mulheres foram as pioneiras na adoção do relógio de pulso: a rainha inglesa Elizabeth Primeira, por exemplo, tinha um relógio que podia ser atado ao seu braço.
Na guerra, no entanto, saber a hora era essencial. Por exemplo, para que ações militares pudessem ser sincronizadas. Por isso, fabricantes desenvolveram relógios que permitiam ao usuário ter as duas mãos livres durante as batalhas e ao pilotar aviões - ou seja, relógios de pulso.
Horário de Verão
Quando a Primeira Guerra Mundial começou, a ideia de adiantar os relógios na primavera e atrasá-los no outono não era nova. O americano Benjamin Franklin já havia sugerido a medida como forma de economizar energia em uma carta publicada por The Journal of Paris, em 1784.
Velas eram desperdiçadas nas noites de verão porque o sol se punha antes de as pessoas irem dormir, ele explicou. E a luz do Sol era desperdiçada no início do dia porque o Sol nascia enquanto as pessoas dormiam.
Propostas semelhantes foram feitas na Nova Zelândia, em 1895, e na Grã-Bretanha, em 1909 - sem sucesso.
Durante a Primeira Guerra, no entanto, implementar a mudança tornou-se uma questão de sobrevivência. Na Alemanha, devastada pela escassez de carvão, as autoridades decretaram que, às 23 horas do dia 30 de abril de 1916, os relógios deveriam ser adiantados em 1 hora, para meia-noite. Isso geraria uma hora extra de luz diária na manhã seguinte.
A medida foi rapidamente adotada por outros países. A Grã-Bretanha seguiu o exemplo três semanas mais tarde, em 21 de maio de 1916.
Em março de 1918, o Congresso americano estabaleceu vários fusos horários e oficializou horários para economia de luz diurna até o final da guerra.
Quando o conflito terminou, o esquema foi abandonado, mas a ideia tinha se alastrado e, mais tarde, voltou a ser adotada.
Salsichas Vegetarianas
Ao contrário do que muitos imaginam, a salsicha de soja não foi inventada por um hippy que morava na Califórnia, Estados Unidos, na década de 1960. Ela é criação de Konrad Adenauer, um alemão que, anos mais tarde, tornou-se o primeiro chanceler da Alemanha pós Segunda Guerra.
Durante a Primeira Guerra, Adenauer foi prefeito da cidade alemã de Cologne. Sob bloqueio britânico, alimentos foram ficando escassos na cidade. Inventivo, Adenauer começou a pesquisar formas de substituir alimentos escassos, como a carne, por alimentos disponíveis.
No início, ele usou uma mistura de farinha de arroz, cevada e farinha de milho da Romênia para fazer pão - substituindo o tradicional trigo. O sistema estava funcionando, mas a Romêmia entrou na Guerra e o suprimento de farinha de milho foi interrompido.
Após seu experimento com pão, Adenauer decidiu procurar um novo tipo de salsicha: uma salsicha sem carne, outro alimento escasso no período. A salsicha de soja foi batizada de Friedenswurst, ou "salsicha da paz".
Zíper
Desde meados do século 19, muitos vinham usando combinações de colchetes, fivelas e fechos para encontrar uma forma simples e fácil de evitar o frio.
Mas foi Gideon Sundback, um sueco que migrou para os Estados Unidos, quem achou a solução perfeita. Chefe de design da Universal Fastener Company, ele criou o "fecho sem ganchos", que deslizava e prendia duas fileiras de dentes metálicos uma à outra.
Os militares americanos incorporaram o mecanismo em uniformes e botas, particularmente a Marinha. Depois da guerra, a novidade passou a ser utilizada pela população civil.
Chá em Saquinhos
O chá em saquinhos também não foi inventado para vencer obstáculos criados pela guerra. Em 1908, um mercador de chá americano passou a enviar o produto a seus clientes embalado em saquinhos. Por acidente ou não - assim diz a lenda - os compradores mergulharam os saquinhos na água.
Durante a guerra, uma companhia alemã, Teekanne, levou a ideia adiante e passou a fornecer chá em saquinhos de algodão para as tropas. Eles foram batizados de "bombas de chá".
Aço Inoxidável
Aço que não enferruja nem sofre corrosão chegou ao mundo cortesia de Harry Brearley, da cidade inglesa de Sheffield. Criado em 1913, o produto revolucionou a indústria metalúrgica e tornou-se um componente indispensável do mundo moderno.
Os militares britânicos estavam tentando encontrar um metal mais adequado para armas. O problema era que o calor e a fricção produzidos pela passagem das balas enferrujavam os canos das armas. Brearley, um metalúrgico de uma empresa de Sheffield, foi encarregado de procurar uma outra liga, mais resistente.
Ele experimentou adicionar cromo ao aço e, diz a lenda, jogou fora algumas das amostras que tinha testado, achando que não tinham dado certo.
O material ficou jogado num canto, até Brearley se dar conta de que as amostras não tinham enferrujado. Ele havia descoberto o segredo do aço inoxidável.
Durante a Primeira Guerra, o material foi usado em motores, mas tornou-se absolutamente indispensável na fabricação de facas, garfos, colheres e instrumentos hospitalares.
Comunicações entre Pilotos
Antes da Primeira Guerra Mundial, pilotos não tinham formas de conversar uns com os outros ou com pessoas em terra.
No início da guerra, exércitos usavam cabos para se comunicar, mas estes eram com frequência rompidos por tanques ou artilharia. Além disso, os alemães logo encontraram uma forma de interceptar comunicações entre os britânicos. Mensageiros, bandeiras, pombos, luzes e outros métodos também eram usados mas não eram adequados. Aviadores, por exemplo, usavam gestos e gritos.
A resposta foi o rádio sem fio.
A tecnologia já estava disponível, mas tinha de ser desenvolvida. E os britânicos se encarregaram disso durante a Primeira Guerra Mundial.
As primeiras tentativas de se instalar rádios para comunicações em aeronaves foram dificultadas pelo excesso de ruído produzido pelos motores.
No livro British Radio Valves: The Vintage Years - 1904-1925, o historiador britânico Keith Thrower explica que o problema foi aliviado com a criação de um capacete que tinha um microfone embutido e tampões de ouvido que bloqueavam o barulho.
Desta forma, abriu-se caminho para a decolagem da aviação civil após a guerra.
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