quinta-feira, 24 de abril de 2014

IML aponta 'ferimento transfixante' como causa da morte de dançarino


IML aponta 'ferimento transfixante' como causa da morte de dançarino

Morte de DG, do programa 'Esquenta', causou protesto violento no Rio.
'Como se tivessem perfurado ele com ferro ou vergalhão', disse a mãe.

Do G1 Rio
Jornal da Globo teve acesso com exclusividade ao laudo do Instituto Médico Legal (IML) sobre a morte de Douglas Rafael da Silva Pereira, conhecido como DG, dançarino do programa "Esquenta", de Regina Casé, na TV Globo. Segundo o documento, o óbito, ocorrido na madrugada de terça-feira (22), foi causado por "hemorragia interna decorrente de laceração pulmonar decorrente de ferimento transfixante do tórax. Ação pérfuro-contundente". Em outras palavras, o tórax de DG foi perfurado por um objeto – podendo, inclusive, ser uma bala –, com pontos de entrada e saída, o pulmão sangrou demais e ele não resistiu aos ferimentos.
Após saber do laudo, a mãe da vítima, a auxiliar de enfermagem Maria de Fátima da Silva, disse que "furaram ele". "Como se tivessem perfurado ele com ferro ou vergalhão. Ele tinha sangue, como se estivessem raspado ele na parede. Tinha muito sangue na boca", destacou a mulher, que vai prestar novo depoimento nesta quarta-feira (23) na 13ª DP (Copacabana).
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Foto obtida pelo Jornal da Globo mostra DG n (Foto: Reprodução / TV Globo)Foto mostra DG no chão, nos fundos de uma
creche (Foto: Reprodução/TV Globo)
Segundo Maria de Fátima, o enterro do filho será nesta quinta-feira (24), às 15h, no Cemitério São João Batista. De acordo com ela, a apresentadora Regina Casé antecipou o retorno de sua viagem de férias para comparecer ao sepultamento.
Protesto violento
O início da noite de terça-feira foi marcado por um protesto em Copacabana, na Zona Sul do Rio, contra a morte de DG. Uma foto, também conseguida com exclusividade pelo Jornal da Globo, mostra o jovem morto, no chão, em um vão de escadas, nos fundos de uma creche. É possível ver sangue no chão. Durante a manifestação, Edilson da Silva dos Santos, de 27 anos, levou um tiro na cabeça e morreu.
Foi uma noite de muita tensão, com tiros, barricadas com fogo e ruas de Copacabana bloqueadas. O tumulto se estendeu por duas das principais vias do bairro, e o comércio fechou as portas. A Avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais da região, foi fechada antes das 18h. O Batalhão de Choque se posicionou bem perto da entrada da comunidade Pavão-Pavãozinho, onde está situada uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Uma multidão se concentrou no acesso ao morro. A cada movimentação da polícia, havia revolta da população.
Segundo o comando da UPP, na madrugada de terça-feira houve tiroteio entre policiais da unidade e traficantes. O caso foi registrado na delegacia e, quando policiais civis faziam uma perícia no local do tiroteio, viram Douglas Rafael morto.
Fraturas no corpo
O comando da UPP confirmou que havia fraturas no corpo do dançarino. Em nota, a Polícia Civil disse que o laudo apontou que as escoriações são compatíveis com morte ocasionada por queda.
Na noite de terça, na delegacia, a mãe de DG ficou indignada com essa versão. "Ele não caiu do muro. Ele estava machucado. Ele tem marca de chute nas costas, na costela", disse Maria de Fátima.
Laudo foi obtido pelo Jornal da Globo (Foto: Reprodução / TV Globo)Laudo da morte do dançarino do 'Esquenta' foi obtido pelo Jornal da Globo (Foto: Reprodução/TV Globo)
Moradores do Pavão-Pavãozinho relataram à TV Globo que Douglas Rafael estaria pulando muros da creche para fugir de um tiroteio entre bandidos e policiais da UPP, na madrugada de terça. O dançarino teria sido confundido com traficantes.
O líder comunitário Carlos Henrique Júnior postou em sua página em uma rede social que Douglas Rafael foi morto pelos policiais da UPP no Pavão-Pavãozinho, no Cantagalo, dentro de uma creche. Ele será intimado a depor pela Polícia Civil. O delegado Gilberto Ribeiro, da 13ª DP, que investiga a morte, já ouviu três dos 10 PMs que participaram do tiroteio na madrugada de terça-feira.
'Arrasada', diz Regina Casé
No fim da noite, depois de saber da morte de Douglas Rafael, a apresentadora Regina Casé divulgou a seguinte nota: "Estou arrasada e toda a família Esquenta está devastada com essa notícia terrível. Uma tristeza imensa me provoca a morte do DG, um garoto alegre, esforçado, com vontade imensa de crescer. O que dizer num momento desses? Lamentar, claro, essa violência toda, que só produz tragédias assim. Que só leva insegurança às populações mais pobres do país. Agora, é impossível saber exatamente o que houve, mas é preciso que a polícia esclareça essa morte, ouvindo todos, buscando a verdade. A verdade, seja ela qual for, não porá fim à tristeza, mas é o único consolo".

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